Por Raimundo Borges
O Imparcial – A presença do governador Carlos Brandão (PSB) na comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China não significa apenas mais um convidado a visitar o país asiático, presidido pelo líder Xi Jinping, Brandão acumula uma base de informações que talvez ninguém da equipe de Lula retenha. Por cinco vezes o governador do Maranhão esteve na China, debatendo oportunidades, comércio internacional e investimentos no Maranhão. Um dos focos dessas viagens é a incorporação do Maranhão pelo governo federal no megaprojeto chinês – o maior da história contemporânea – chamado Nova Rota da Seda.
Em 2022, foi realizado em São Luís o Simpósio Internacional “As Potencialidades do Maranhão na Nova Rota da Seda da China: Oportunidades de Negócios e de Desenvolvimento para o Brasil” promovido pela Fundação Sousândrade (da Ufma) em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Programas Estratégicos do Governo do Maranhão, sob o comando do ex-governador José Renaldo Tavares. O debate teve como foco a expansão da Nova Rota da Seda, sua logística portuária e características especiais nos setores de energias renováveis e projetos de hidrogênio verde, gás e petróleo.
O evento da Fundação Sousândrade e SEDEPE, teve o patrocínio da Federação das Indústrias do Maranhão, Suzano, GPM (Grão -Pará Multimodal), Equatorial Energia, Granel Química, e Universidade Ceuma, com o apoio da Gasmar – Companhia Maranhense de Gás e do Porto do Itaqui. O principal conferencista foi o PhD Paul Lee, da Universidade Zhejiang (China), um dos idealizadores do estudo “Strategic locations for logisticsdistributions centers along the Belt & Road”, no qual a capital maranhense foi apontada como um dos pontos estratégicos para a expansão da Nova Rota da Seda da China em 2020.
700 projetos na Rota da Seda
O pesquisador coreano Paul Lee mostrou a empresários e investidores, representantes do Governo e da Academia no que consiste o programa BRI, iniciado pela China em 2013, com foco em mais de 700 projetos de infraestrutura e construção de portos, ferrovias, rodovias e aeroportos executados em mais de 100 países, que hoje fazem parte do programa Belt & Road Initiative (BRI). Portanto, Carlos Brandão leva de baixo do braço o esqueleto do projeto que o presidente Lula apresentará na China para oficializar a inclusão do Brasil na Rota da Sede, usando toda a infraestrutura portuária e rodoviária do sistema Itaqui.
Na ocasião do evento internacional em São Luís, o então presidente da Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap), Ted lago expôs a logística portuária e sua localização, estrategicamente próximo aos principais mercados mundiais. Portanto, o Porto do Itaqui possui infraestrutura para movimentar granéis sólidos, vegetais e minerais, líquidos, cargas gerais e contêineres. Hoje se tornou líder no escoamento de grãos no Arco Norte do país, hub de combustíveis e um dos principais portos públicos brasileiros conectados ao restante do país pela Estrada de Ferro Carajás e pela Transnordestina.
Itaqui como centro estratégico
O Porto do Itaqui faz conexão indireta com a Ferrovia Norte-Sul, que se liga à Estrada de Ferro Carajás em Açailândia (MA). Conta ainda com o porto privado do consórcio Alcoa, Rio Tinto e South32, escoadouro dealumina e alumínio, produzidos pela Alumar. Mereceu destaque outros projetos importantes de portos privados em implantação: Porto São Luís da Ligga e Terminal Portuário de Alcântara (TPA) da empresa Grão-Pará Multimodal. Ambos já estão em fase de licenciamento, e são relevantes para reforçar a vocação portuária do Maranhão, que passará ter o seu desenvolvimento sustentado nessa infraestrutura.
Segundo Thomaz Baker, Gerente Geral de Obras da Ligga– Projeto Porto São Luís – o empreendimento vai ser realizado em diversas fases para ser concluído em 20 anos. Esse será um porto de granéis sólidos e carga geral; com a diferença competitiva de já possuir uma carga âncora oriunda do Pará, de outros projetos da Ligga, empresa com valores alinhados aos melhores conceitos de ESG (sigla em inglês para Meio Ambiente, Social e Governança).Também, Paulo Salvador, sócio da Grão Pará Multimodal apresentou o projeto conjunto da Estrada de Ferro (EF-317) e o Terminal Porto de Alcântara (TPA), a serem construídos em regiões estratégicas de escoamento de matérias primas.
Por sua vez, o engenheiro da Valec Urubatan Tupinambá fez uma abordagem sobre logística ferroviária. Os técnicos da SEDEPE Pedro Dantas da Rocha Neto, Fraga Araújo e Dr. Fabrício Brito apresentaram projetos de energias renováveis e nova economia verde, mercado de carbono zero, fertilizantes e hidrogênio verde, prioridades na China atualmente. No debate ocorrido em 2022, outro destaque foi o projeto para a implantação de uma ZPE / Zona de Processamento de Exportações no Maranhão que será determinante para facilitar negócios globais no Estado.
A grande fronteira
Para o pesquisador Allan Kardec “a grande fronteira energética do Planeta é aqui” e na margem equatorial, entre o Pará e Maranhão. “Tudo isso demonstra o quanto o Maranhão é um player estratégico para a China e para o mundo”, completou. Já o cientista Paul Lee deixou registrado em documento recomendações estratégicas para a consolidação da parceria com a China. Ele destacou que o Estado do Maranhão e região possuem recursos agrícolas e naturais abundantes: grãos, recursos minerais (minério de ferro, cobre, manganês, bauxita, alumínio), petróleo e gás.
O Maranhão, segundo ele, “pode não apenas contribuir para o atendimento às questões de segurança da China, mas também usufruir das vantagens e benefícios para o desenvolvimento econômico do Maranhão ao aderir ao BRI”. Por sua vez, o titular da pasta de Projetos especiais do governo do Maranhão, José Reinaldo Tavares, diz que o Maranhão deu um enorme passo para a sua integração à Rota da Seda. “Paul Lee concordou em ser nosso consultor para que possamos nos integrar, com a rapidez possível, no Sistema logístico da Rota da Seda. Vamos seguir somando esforços para alcançar essa meta”, analisou Tavares.